sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A corriqueira falta de sentido e de valor à vida

Esta noite, um anjo torto desses que vivem à sombra, bateu à minha porta. Bem na hora do jogo do mengão. Ah, certamente era um cobrador ou uma testemunha de Jeová. Por convenção, abotoei a camisa, botei um sorriso torto e pálido na boca e fui atender o incômodo importuno. Não obstante e sem surpresas, deparei-me com um empreendedor que me fez uma proposta dessas que se fazem todos os dias no centro das metrópoles. Ele queria comprar a minha alma. Certo, vendê-la resultaria em ter dinheiro para comprar aquela moto linda, ou quem sabe, fazer aquela viagem no fim do ano, hein? Pedi a ele que esperasse, e da porta mesmo, perguntei a empregada doméstica, digo, secretária do lar da minha casa, com a qual eu tinha feito um contrato social simbolizado por uma aliança que me custara os olhos da cara, o que ela achava d’eu vender a minha alma. Som gutural nenhum respondeu a minha indagação aflita, mas comum. Era um bom negócio, pensei comigo. Mas, a quem meus filhos pediriam a benção matinal, embora sem sentimento afetivo e apenas por imposição, certamente, a um estranho outdoor de personalidades e discursos distintos. Contudo, não fiz objeção, e por punhado de folhas impressas e bônus na conta bancária, vendi a alma que não me pertencera. Garanto-lhe que fiz um bom negócio, pois há tantas almas, pela metade do preço que vendi, na esquina da Rua João Pessoa. O saldo disso tudo é uma moto enferrujada, um ônus na conta e um coração sem alma.