quinta-feira, 24 de março de 2011

Eu queria copiar todos os arquivos da tua vida e colar na pasta da minha mente; na lixeira jogar todos os momentos tristes que vivenciamos; e às vezes em que cheguei a duvidar do nosso amor, formatar os nossos destinos para que nenhum vírus nos atinja, mas você nunca está online.

sexta-feira, 4 de março de 2011

AS TANTAS PIPAS EM UM CÉU TÃO APERTADO

(As tantas culturas em um mundo tão pequeno)

Uma reflexão do multiculturalismo à luz do filme “O Caçador de Pipas”


O Caçador de Pipas é um filme baseado no romance que tem o mesmo título, escrito pelo afegão Khaled Rosseini que atualmente mora nos EUA – é bom que se diga isso. O livro virou best-seller, com milhões de cópias vendidas pelo mundo inteiro, fora os downloads do livro e filme que são muitos pela internet.

Amir é um menino rico e mimado que veste lacoste, e que tem um fiel escudeiro: Hassan, o menino pobre, filho do empregado e que está sempre à disposição. A amizade dos dois é colocada em questão por um grupo de garotos de etnia inimiga que tentam mostrar a Hassan, que ele é apenas um empregado de Amir e não um amigo, como se relações sociais de castas impossibilitassem a construção de uma amizade verdadeira. Além disso, esses garotos julgam Amir e seu pai como não sendo afegãos de verdade e que não merecem viver entre eles, uma prova cabal de conflito social gerado por preconceito cultural.

Essa amizade é verdadeira, até o ponto em que é ameaçada pela a atitude desses mesmos garotos. Eles tentam levar de Hassan, uma pipa que o garoto havia prometido ao seu companheiro Amir, e diante da resistência do menino, consuma-se o ato do estupro que Amir presencia de longe. Ele foge sem fazer nada, mas é acometido pelos duros tormentos do sentimento de culpa islâmico.

Esse sentimento de culpa vai segui-lo por toda vida. Quando os soviéticos invadem o Afeganistão, na tentativa de impor sua cultura e equalizar as massas no que eles consideram certo, mais uma vez Amir foge, dessa vez para a América, e quem defende com unhas e dentes o patrimônio de Amir é Hassan, que fica na casa do seu pai.

O longa tenta abordar o multiculturalismo e, em alguns pontos, de forma frustrada. Pois, o pai de Amir bebe uísque, anda de Mustang, ouve músicas em inglês e desfruta de outras “regalias” do mundo ocidental. Viver dessa forma no mundo afegão é quase que inaceitável. Mas pode também representar o rendimento à cultura capitalista em protesto ao comunismo russo que devastou cidades como Cabul, e que o filme mostra tão bem.

O escritor que se tornara nos Estados Unidos e a nova vida que construíra não arrancam de Amir o velho sentimento de culpa. Por isso, ele volta a Cabul e vê uma cidade devastada, onde as pessoas são obrigadas a agirem de determinadas maneiras porque o pluriculturalismo, existente no Ocidente que Amir vive, não é aceito por lá.

Amir acaba se auto perdoando já que todos haviam morrido, quando adota o filho de Hassan, tendo sido este queimado em praça pública por defender a casa de Amir. Uma bela atitude. Mas, quantas crianças não existiam em Cabul? Obrigadas a viver com migalhas e a mercê dos desejos soviéticos em terras pátrias? O menino que ele leva para os Estados Unidos sofre, ainda, mais noções preconceituosas por ser de origem afegã, pelo próprio sogro de Amir que é afegão. Ou seja, uma mostra do quanto a cultura pode tornar seres tão iguais como os humanos, em pessoas tão diferentes.