terça-feira, 9 de outubro de 2018

O tempo definitivamente não para


A novela "O tempo não para" é uma obra curiosa, um ponto um pouco fora da curva das produções pós-modernas da cultura de massa dos meios, da paraliteratura. Com o claro intuito de atendimento ao mercado do entretenimento, até porque é a telenovela do horário cômico, consegue trazer uma reflexão pertinente sobre muitas questões. Para além do fantasioso (humanos congelados sobreviverem a mais de cem anos de congelamento), está a análise das disparidades e as similitudes temporárias. Em alguns aspectos parece que o tempo parou, quando problemas ainda muito recorrentes no hoje são relatados como comuns na vida dos personagens antigos. Em outros, é possível ver como a pós-modernidade chegou com mais problemas para a humanidade, com mais complexidade - e como sofrem os personagens do século XIX nessa nossa tão cruel contemporaneidade. Parece que estamos vivendo um anacronismo dos problemas, dos valores, dos desafios, mas só tempos o presente para enfrentá-los. Ao ver a novela, lembro de algumas pessoas que dizem: "Ah, no meu tempo era bem melhor, no meu tempo era assim..." Mas, o "tempo não para", nem o acento diferencial de para existe mais. Alguns problemas passados como a escravidão se reproduzem hoje de outras formas, ou das mesmas formas de antes, e os problemas que não existiam no passado, como a crescente violência, não tendem a deixar de existir porque o modo de vida capitalista os imprime a avançar. Apesar da história ser cíclica, parece que estamos no centro, vivendo o ontem e o hoje ao mesmo tempo, sem saber lidar com os dilemas das duas situações. O personagem da novela "Dom Sabino" lembra o "Coronel Ponciano" do livro "O coronel e o lobisomem", de José Cândido de Carvalho, que também sofreu ao lidar com o ambiente urbano. Agora não é só mais o urbano e o rural que dualizam na arte, mas o presente e o passado. Realmente é de se espantar como os congelados da foto!