Gari falou sobre a invisibilidade social dos agentes de limpeza pública. (Foto: Dje Silva) |
“Trabalho e
desigualdade social na contemporaneidade: reflexões sobre a invisibilidade dos
agentes de limpeza pública”. O tema da pesquisa isoladamente já seria um
assunto socialmente rico para qualquer estudante do curso de história de uma
universidade pública no interior da Paraíba. Mas o trabalho ganhou ainda mais
representatividade e chamou a atenção do campus da Universidade Estadual da
Paraíba na cidade de Guarabira quando Ednilson de Pontes Silva, gari, casado,
de 31 anos, chegou à instituição vestido com o fardamento de trabalho para
defender o trabalho de conclusão de curso.
Familiares, amigos, professores e alunos assistiram à defesa. (Foto: Dje Silva) |
Deninho, como é
conhecido no local, trabalha como gari na cidade de Pirpirituba desde 2011,
quando foi aprovado em um concurso público para a função. Em 2013 ele foi
aprovado no antigo vestibular da UEPB para o curso de história e iniciou a
faculdade no ano seguinte. Neste mês de junho de 2019 ele concluiu o curso
defendendo o TCC em meio a amigos, familiares, professores e outros estudantes
vestido com o macacão com o qual trabalha diariamente.
“Antes eu tinha
vergonha do meu trabalho, hoje eu tenho orgulho. Quando entrei na faculdade,
passei uns dois períodos sem dizer qual era a minha profissão, mas depois vi
que não tinha nada de errado em ser gari e que eu devia me orgulhar por exercer
uma função importante e honesta, até que relatei minha história para os amigos
em uma confraternização da turma e eles ficaram felizes por eu estar podendo
ter acesso à universidade”, relatou.
Bolo e lembranças foram temáticos. (Foto: Dje Silva) |
Ednilson também é filho
de um gari. Seu Miguel Martins da Silva tem 60 anos de idade e continua
exercendo o papel na sua cidade até os dias atuais. O filho de seu Miguel teve
uma trajetória difícil até se formar. Ele trabalhava pela manhã como gari e
estudava à tarde. Para ir de Pirpirituba a Guarabira ele utiliza o ônibus
escolar e depois conseguiu comprar uma moto para ir assistir às aulas. O gari e
estudante também dividia o tempo com as obrigações de casa, já que foi pai
durante o período em que estava fazendo o curso.
Deninho conta que
decidiu pesquisar sobre a invisibilidade social que enfrentam os agentes de
limpeza por causa da indiferença que sentiu na pele nas ruas. “Eu resolvi falar
sobre este tema porque senti o quanto somos discriminados socialmente.
Pesquisei sobre o tema e encontrei apenas um estudioso que se debruçou sobre o
tema, então decidi mostrar a realidade desses trabalhadores tão sofridos e tão
importantes”, disse.
Ednilson agradeceu à orientadora ao receber nota 10. (Foto: Dje Silva) |
Mas ele não queria
apenas discutir sobre o tema academicamente, queria chamar a atenção de toda a
sociedade e, para isso, vestiu-se com a roupa do trabalho. “Eu sempre comentava
com minha esposa que qualquer dia faria isso porque sempre vêm para as aulas
policiais fardados, advogados de terno, enfermeiros de roupa de trabalho e por
que não seria possível um gari vir com o fardamento do seu ofício? Que
estranheza isso provoca? Meu objetivo era chocar mesmo e fazer refletir”,
explicou.
Ednilson entrevistou
dez garis para a elaboração da pesquisa. Ao fim da apresentação, a sua nota foi
a máxima, 10, e as lembranças desse momento e o bolo de confraternização
tiveram como tema os agentes de limpeza pública. “A gente que vem de baixo sabe
o significado disso. É por isso que é tão importante a universidade pública de
qualidade para quem não tem condições de pagar”, disse o gari e agora professor
Ednilson Pontes.