quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Bandidagem escancarada
Roubalheira desmedida
Assalto a mão armada
Sociedade corrompida
Indecência mascarada
Lembra essa pátria querida

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O sol nasce para todos, uns se bronzeiam; outros transpiram.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Viver e aprender através da imaginação

É sempre bom viver
Num mundo de fantasias
Onde só existe alegria
Sonhos e muito prazer
Viajamos dessa vida do sofrer
A vida do belo e da perfeição
Onde o narrador é o coração
E a história se repete
Onde o racional se remete
A nossa grande ilusão

Ao lermos, viajamos
Tentamos deduzir o final
E de forma irracional
Sonhamos e imaginamos
Sorrimos e nos chocamos
Esquecemo-nos do tempo
Acabamos com o lamento
Saímos da realidade
E como numa lavagem
Mudamos o pensamento

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A condição da felicidade

As minhas pupilas acusadoras
Olham de cima para baixo
Vêem um mendigo, um cachorro
Vêem os pés de um deputado
Dois seres sem importância
Diante da elegância
De um nobre e caro sapato

A sua calça listrada
É de um tecido nobre
O couro de todo um filo
A sua cintura cobre
A camisa, seda indiana
E o cidadão esbanja
Com o traje o que ele pode

O meu corpo se tornou
Um outdoor de publicidade
A minha mente é marcas
Pra impressionar a sociedade
O cartão vai estourar
Mas eu preciso comprar
A condição de felicidade

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Sem sentido

Quando chega a noite, eu me desespero. Parece que todas as minhas aflições e problemas se encontram num “happy hour” pra festejar o meu sofrimento. As lembranças e incertezas - e ainda bem quem que elas existem, pois qual seria a graça de entrar num jogo, já sabendo o resultado - batem e rebatem com o som de um martelo judicial nas mãos da consciência. E ela não me absolve. A televisão, ligada à meia altura, não me distrai. Minhas aflições nunca foram muito importantes, e nunca dariam uma matéria de jornal, não tenho dom para encenar. Eu me preocupo e me torturo com as coisas mais simples da convivência humana, e não estou perdendo tempo, aliás, acho que estou muito a frente da maioria dos jovens da minha idade, besteira, diante Deus e da Justiça são todos iguais. E por mais que eu tente fugir das indagações acerca do valer ou não à pena essa correria louca, desenfreada pela traição da vida, não consigo fugir da sentença da mente. A porta da casa fechada fecha também os meus sentidos. Eu odeio a noite. Não tenho com quem compartilhar as experiências vividas na rotina do dia, e o meu contato com o mundo é através de uma tela virtual. Eu escrevo agora para esquecer o mudo lá fora, e o quanto eu poderia estar aproveitando os anseios da minha idade, mas me relegaram uma responsabilidade muito maior, pautada em resultados. “Vamos lá, tudo bem, eu só quero é me divertir, e esquecer dessa noite ter um lugar legal pra ir”. Não sei quando vou acabar essa transcrição de pensamentos, devaneios, aliás, eu não sei se vou terminar, pois todo dia vivo essa angústia. Uso muitas vírgulas, pois quero que esse momento demore, se eternize, não, não, só que me dê sono, e que eu possa repousar a cabeça, mas não a mente. Deleito o crânio sobre o meu travesseiro com penas de ganso, e não tenho nenhum remorso pelo pobre animal, mas o pagamento da fatura me flagela. Durmo, acordo, e com o amanhecer, tudo aquilo que restringia o meu viver some, já não me preocupo em pedir desculpas a minha mãe por só procurá-la para contar as coisas ruins que eu vivenciava, ou de dar bom dia ao motorista do ônibus e irradiar a todos com um humor matinal exótico. Foi-se o meu ressentimento e a noção de culpa, eu só quero correr atrás de tudo isso que me dizem ser o certo e que me maltrata ao fim do dia.

terça-feira, 6 de abril de 2010

O mundo da Escrita


O livro “Ler e Escrever: estratégias de produção textual” de 2009 da Editora Contexto, que tem como autora Ingedore Villaça Koch e coautora Vanda Maria Elias, é dividido em oito capítulos que trabalham a escrita e suas várias vertentes em nível pedagógico a partir de uma visão sóciocognitiva da interação.
No primeiro momento, Koch e Elias fazem um paralelo entre escrita e fala, apontando as divergências e os aspectos inerentes à fala que podem ser usados na escrita. Sabe-se que os textos escritos não têm a característica da conversação face a face que possibilita a presença simultânea dos interlocutores e a liberdade no uso da língua e, que a coprodução ou a participação do leitor restringe-se às estratégias do escritor visando o público, enquanto na fala o receptor participa ativamente da enunciação.
Apesar de a escrita não ser uma mera transcrição da fala, neste livro vemos que ela é uma representação desta. Logo, alguns recursos da fala devem ser utilizados nos textos escritos. É claro que Koch ressalta o uso com adequação para não prejudicar a sintaxe do texto. Sendo assim, as autoras defendem o uso de repetições, uma proposta não muito nova já que a poesia utiliza este recurso há bastante tempo.
Baseado nessa interação sóciocognitiva, o raciocínio das autoras permeia em entender a produção textual como algo principiado pelas estratégias do produtor visando o leitor. Essas estratégias requerem conhecimentos linguísticos, enciclopédicos, textuais e interacionais. Essa teoria interacional, que o livro tão bem apresenta, livra a escrita daquela concepção gramatical de domínio das regras ou da concepção egocêntrica das intenções ou da representação mental do escritor. Tal prática centrando-se no escritor-leitor é facilmente percebida em anúncios publicitários, por exemplo, validando as argumentações postas em Ler e Escrever.
Depois da explicação da teoria interacional, o segundo momento é da apresentação dos recursos da escrita que devem ser utilizados visando a interação, uma verdadeira aula sobre como escrever pensando na relação com o leitor. Para começar, fala-se sobre gêneros textuais e a competência do escritor em escolhê-los de acordo com a situação comunicativa, além da habilidade em adequar-se ao gênero escolhido e da utilização dos recursos deste. O próximo passo abordado é o do contexto e da adequação situacional considerando esse contexto (linguístico e extralinguístico). É citada também, a intertextualidade e o efeito que o autor pretende com esta pela sua manipulação, sempre considerando o conhecimento do público a respeito do outro texto a que o autor faz referência.
As autoras são muito felizes em destinar um vasto capítulo à questão da progressão referencial devido às correntes dúvidas dos escritores no momento da produção. Pois muitas pessoas escrevem fazendo referências anáforas e catáforas sem se darem conta do processo tão determinante para a progressão e coerência do texto que é essa referenciação aos fatores linguísticos. Nada muito diferente da progressão referencial abordada em qualquer livro de gramática ou redação.
A progressão sequencial é um tópico bem explanado no livro, pois apresenta todos os recursos que constituem a sintaxe do texto e que são comuns a qualquer texto. Estes recursos são primordiais para o desenvolvimento do texto e para o seu desenrolar, ou seja, para sua progressão. São estes benefícios da escrita aliados à competência do escritor, ao gênero, ao contexto, à progressão referencial, e ao conhecimento do leitor, que vão garantir a coerência do texto, que as autoras tratam com tanta primazia no último parágrafo.
O livro é muito baseado em autores como Bakhtin e, apesar de não apresentar tantas novidades, deve-se lembrar que as autoras são verdadeiras autoridades no assunto, muito bem conceituadas e que têm uma linha de publicação semelhante a este livro na Editora Contexto. “Ler e Escrever” é muito prático e apresenta muitos textos e imagens relacionados aos assuntos, ótimo para professores de Língua Portuguesa da Educação Básica. Portanto, para quem desejar aprimorar e entender a produção textual, este livro explicita de forma teórica e prática, o básico deste mundo fascinante que é a escrita.

*Texto produzido por Rafael de Araújo Melo, aluno do curso de Letras, segundo semestre, cursando PLPT II.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A corriqueira falta de sentido e de valor à vida

Esta noite, um anjo torto desses que vivem à sombra, bateu à minha porta. Bem na hora do jogo do mengão. Ah, certamente era um cobrador ou uma testemunha de Jeová. Por convenção, abotoei a camisa, botei um sorriso torto e pálido na boca e fui atender o incômodo importuno. Não obstante e sem surpresas, deparei-me com um empreendedor que me fez uma proposta dessas que se fazem todos os dias no centro das metrópoles. Ele queria comprar a minha alma. Certo, vendê-la resultaria em ter dinheiro para comprar aquela moto linda, ou quem sabe, fazer aquela viagem no fim do ano, hein? Pedi a ele que esperasse, e da porta mesmo, perguntei a empregada doméstica, digo, secretária do lar da minha casa, com a qual eu tinha feito um contrato social simbolizado por uma aliança que me custara os olhos da cara, o que ela achava d’eu vender a minha alma. Som gutural nenhum respondeu a minha indagação aflita, mas comum. Era um bom negócio, pensei comigo. Mas, a quem meus filhos pediriam a benção matinal, embora sem sentimento afetivo e apenas por imposição, certamente, a um estranho outdoor de personalidades e discursos distintos. Contudo, não fiz objeção, e por punhado de folhas impressas e bônus na conta bancária, vendi a alma que não me pertencera. Garanto-lhe que fiz um bom negócio, pois há tantas almas, pela metade do preço que vendi, na esquina da Rua João Pessoa. O saldo disso tudo é uma moto enferrujada, um ônus na conta e um coração sem alma.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010







As duas faces da Leitura









O filme O Leitor, que tem sua história narrada na Alemanha, aborda um assunto geralmente não muito explorado em filmes e livros, pois a temática trata de fazer uma leitura do próprio leitor, das conseqüências que a sensibilidade da leitura pode trazer na vida das pessoas.
O longa-metragem estreou no começo deste ano e foi baseado em um livro alemão de 1995. A história que se passa entre os anos 50 e 60 é muito bem tramada e resultou em um Oscar de melhor atriz para Kate Winslet (protagonista do filme Titanic). O longa chegou ainda, a alcançar status de Best-sellers do New York Times.
O garoto Michael, de 15 anos (David Kross), adoece e recebe ajuda de uma mulher desconhecida, com o dobro de sua idade, a solitária Hanna Schmitz (Kate Winslet). O que parecia um gesto inocente acaba se tornando uma paixão tórrida entre os dois, que se entregam a um sentimento jamais experimentado. Esse amor de verão parece algo forte cheio de paixões e literatura, porém a misteriosa Hanna simplesmente some, deixando o garoto, que já não vive muito bem em família, completamente desolado.
Anos depois, eles se reencontram. Ele, um estudante de direito, depara-se com ela em um julgamento sendo acusada de exterminar centenas de mulheres em um campo de concentração nazista. A partir desse momento, a temática abrange dois grandes eixos que são nazismo e analfabetismo. O preconceito com quem não sabe ler já se mostra evidente na década de 60, conforme o filme. A protagonista se auto-acusa e é condenada por vergonha de declara-se analfabeta, o que poderia significar a prova de sua inocência. E Michael não revela toda a história e não a liberta com vergonha de se expor. Ela é condenada à prisão perpétua e ele a viver com profundo sentimento de remorso e culpa. Os dois lados da omissão e os dois lados do preço dessa omissão. Ou o preço da vergonha das dificuldades que é particular a cada um e que podem gerar os tão famigerados conflitos existenciais.
Inconformado com essa situação, e diante de sua separação com uma garota que conhecera na faculdade de direito, ele decide se redimir, em termos, com Hanna, enviando-lhe fitas cassete com narrações das historias que ele de forma despropositada lia para ela no tempo de adolescente, afinal, só o que ele queria era o sexo depois das leituras. Em posse dessas fitas, ela começa a interpretar as letras e depreende a leitura e a escrita. Mas é aí que entra, como citado no primeiro parágrafo, as consequências que a sensibilidade da leitura pode trazer na vida das pessoas, tais consequências só serão entendidas se o leitor assistir ao filme.
No fim da trama o autor ainda faz uma crítica no sentido em que muito se fala do Holocausto, porém, medidas para amenizar as consequências nazistas que os judeus pagam, não são tomadas, como a criação de um Instituto de Alfabetização. Portanto, o filme aborda grandes e polêmicos eixos temáticos que produzem conhecimento, consciência, e uma visão minuciosa de quem são as pessoas a partir da compreensão e da leitura que fazem do mundo. Afinal somos eternos leitores.