Um lampejo de poesia
Depois da cirurgia, Zé me confidenciou que está se sentindo muito mais vivo e que há a possibilidade de passar por um novo procedimento para enxergar ainda mais. Eu nunca tinha tido falado com o poeta antes de ele perder a visão e foi meu primeiro contato visual com o autor de "O mal se paga com o bem".
É preciso ressaltar que Zé Laurentino é um dos maiores poetas populares em atividade no país, e mesmo durante o período que ficou sem enxergar ele continuou vendo a vida com olhos românticos dos amantes da poesia. Laurentino se destacou nos anos 80 e 90 em Campina Grande no rádio e nos festivais de cultura popular e chegou a viajar para diversos países divulgando a literatura popular.
Nascido no sítio Antas, zona rural de Puxinanã, o poeta vivenciou a mais legítima e original vida nordestina do campo e transcreveu estas experiências para os versos que mostram com muita propriedade um conhecimento verdadeiro do espírito do agricultor, do produtor do interior do Nordeste, como vemos em "O matuto e o doutor".
A poesia dele transita pelo campo e pela cidade, é cômica como em "O matuto no futebol" e é reflexiva como em "Existe felicidade" e ainda mais bonita como em "A vendedora de Flores". Zé é um poeta singular que consegue colocar beleza em tudo. O nome simples mostra a proximidade com todos os Josés dos sertões brasileiros. A partir de agora, com uma nova visão, será possível escrever ainda mais poemas como "Conversa de passageiro", uma obra recitada no país inteiro pela riqueza de detalhes na descrição das paisagens dos torrões sertanejos.
Ele vive no bairro Presidente Médici, em Campina Grande, e o vizinho Arnaldo Cipriano é o principal amigo. Os dois fazem cantorias todas as semanas e ajudam a perpetuar a cultura local. Neste dia 20 de outubro, dia dedicado aos poetas, a melhor poesia a ser recitada e divulgada é a notícia da recuperação de Zé Laurentino.