sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Fim de Feira: Recitando na Feira Central de Campina Grande


Poema de Dedé Monteiro. Participação a convite do cantador Carlos Perê. 

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Ó Campina, Sesquicentenária!


Conto sobre um povoado
Que se fez grande cidade
Sesquicentenária idade
Do lugar abençoado
Começou sendo um espaço
Para descanso tropeiro
Agigantou-se ligeiro
Em cima de uma Campina
Grande nesta Paraíba
Lugar mui hospitaleiro

Sua descoberta se deu
Foi com o Capitão Lêdo
Que logo aqui chegou cedo
Gostou do que conheceu
Mostrou pra todos os seus
A geografia sensata
Não recordo muito a data
O século é bem passado
Aqui ficou instalado
Não quis saber mais de nada

Com ele vieram índios
Fizeram daqui morada
Aldeia foi consagrada
Virou o lugar uma tribo
Deve ser justo por isso
Que então anos mais tarde
Fez-se eclética a cidade
Congrega o mundo inteiro
Chegaram também Tropeiros
Que se tornaram baluartes

Eles chegaram de manso
Vindos de todos os lados
Trazendo seus grandes fardos
Nos burros firmes nos flancos
Na atividade de estanco
Estancados nesta terra
O local de linda serra
Obrigava a parada
Para ir-se demorava
Do descanso à espera

Esta cultura formou
O vilarejo pequeno
Povo foi aparecendo
O espaço se firmou
Em pouco tempo virou
Rua, burgo, domicílio
Freguesia, município
Só não ficou capital
Por não ser no litoral
Mas já está perto disso

Virou símbolo o lugar
De gente trabalhadora
Desde sua história toda
Campina é pra trabalhar
A prática secular
Deixou Grande a Campina
Cada um na sua lida
Contribuiu como pôde
Pra transformar no que é hoje
Esta cidade querida

Mesmo sendo Ocidental
Campina teve um Oriente
Talvez você não se lembre
Foi bem na área central
Este fato foi real
Vila Nova da Rainha
Que inicialmente seria
Rua Oriente chamada
Sendo em seguida mudada
Em função da nostalgia

Toda a urbanização
Começou um pouco rude
Onde hoje é o açude
Perto da Velha Estação
Cresceu a população
O Centro foi se expandindo
Os bairros foram surgindo
Construiu-se a Catedral
A parte territorial
De terra foi se esvaindo

Fez-se uma grande rodagem
Com nome de marechal
Moveu igreja principal
Dando ao progresso passagem
Cruzando toda cidade
A Floriano Peixoto
Leva de um lado a outro
Até parece mentira
Grande, porém pequenina
Interior grandioso

Campina cresceu contente
Feito criança feliz
Fez dum açude matriz
Pra criar a sua gente
O sol quando está poente
Se deita sobre o espelho
Se embriaga de Caranguejo
Vai tombar na Estação
Formando bela visão
Pra quem vem do Zé Pinheiro

Teve um certo prefeito
O Vergniaud Wanderley
Que na arquitetura fez
Um movimento perfeito
Com muito esmero e jeito
Construiu prédio e fachada
Cada obra arretada
Feita com muito suor
Estilo Arte Decor
Obras hoje preservadas

Na Feira que é Central
Está o centro de tudo
Compra-se milho graúdo
Aliás, é um milharal
De gente boa e leal
Que acorda à madrugada
Pega cedo a estrada
Vai trabalhar na Campina
Todo bom caminho ensina
A esta cidade amada

Tem a Rainha do Milho
Tem Seu Zito da verdura
O trabalho deles perdura
Com chuva ou sol a pino
Tem adulto e tem menino
Bancas asfaltam o chão
As frutas pintam o balcão
Lonas colorem a rua
Que de noite fica nua
Com a lua dando atenção

E lá na Feira Central
Na sexta é o melhor dia
Na segunda tem feirinha
Do Severino Cabral
Mas pulei uma essencial
A do domingo na Prata
Nas Malvinas nada falta
É livre a da Liberdade
Tem feira em faculdade
A feira aqui é sagrada

Em rodas, forma de ferro
Chegou aqui a esperança
O trem encantou criança
E emocionou o mais velho
Trouxe de vinda o progresso
Levou de ida Campina
Pra se tornar conhecida
Em cima de um vagão
Neve espuma de algodão
Nossa pedra de safira

Chamaram nossa Rainha
De Liverpool Brasileira
Com cultura algodoeira
Que ferveu a economia
Assim se desenvolvia
Um crescimento real
Também com o fio de sisal
Conhecido como agave
Nos armazéns da cidade
Vindos da zona rural

Com o trabalho a pesquisa
Se tornou forte e focada
A Sambra e a Embrapa
Vestiram nossa camisa
Vieram logo em seguida
Escolas e institutos
Mostrando pra todo o mundo
O nosso potencial
No campo intelectual
Desse povo tão astuto

E com a UFCG
Que nasce anos depois
Fruto dum fusca e dum boi
Doados para vender
E com o dinheiro fazer
A compra enfim do terreno
Campina ganhou fomento
Na parte educacional
Teórica e profissional
Expandindo o crescimento

Foi pioneira ao receber
No interior nordestino
Um canal televisivo
A Borborema TV
Todo mundo pôde ver
O que fez o grande Assis
Chateaubriand, que nos quis
Um pouco mais antenados
Informando a todo estado
Sendo Campina a matriz

Até inclusive a sede
Da indústria paraibana
Por aqui montou campana
E inda hoje permanece
No município investe
Por sua fertilidade
O seu prédio já invade
O Zepa, essa Zona Franca
Produz toda bugiganga
Com a maior facilidade

É uma cidade de beco
Começa pela pavoa
Onde só há gente boa
Pode entrar lá sem medo
No dos bebos há segredo
Que se contado assusta
Doce beco do açúcar
Em cada bairro tem um
São pra lá de 31
Cada um com sua cultura

No beco da Pororoca
De amor despreocupado
Muito amor foi desaguado
Nos braços de uma senhora
Demorava-se a ir embora
Do encontro manancial
Num espaço polimeral
Um mundo inteiro morava
Com Maria Garrafada
Nas tais noites de luau

Foi grande o império dourado
Onde até mesmo a pilastra
De concreto apaixonada
Pelas meninas do palco
O Cassino Eldorado
Onde hoje o sol doura o chão
Casa de tanta emoção
Se rendeu ao esquecimento
Foi ao solo em um momento
Tal como o meu coração

Num lugar de nome Boninas
Onde foi um cemitério
Desenhou-se um hemisfério
De habitação feminina
Toda classe masculina
Turistava o Continente
De bonita e boa gente
Para celebrar a vida
De tão belas as meninas
Davam graça ao ambiente

Da manga rosa o doce leite
Pingava no violão
O pé fazia o sombrão
Para os ébrios em deleite
Alegria era o azeite
Para a turma degustar
No barzinho de Sabará
O dono sempre bebia
O cliente é quem servia
Para a conta não pagar

Se no Cine Capitólio
Mazzaropi repassasse
Ai, quão era minha vontade
De encher o auditório
Mas o cenário vexatório
Não me permite o clamor
Onde o Ébrio já rodou
Hoje o filme exibido
Num projetor destruído
É de drama e de terror

A festa mais popular
Desta gente enternecida
É a grande festa junina
Trinta dias pra dançar
Brincar e extravasar
Dançar colado no corpo
O Parque se enche do Povo
O campinense de orgulho
O turista aprova tudo
Promete voltar de novo

Milhares metros quadrados
Tem o espaço da festa
Com o clima bom de serra
Dá pra brincar um bocado
Turista fica encantado
Mas com a festa num se engane
Num é Egito, tem Pirâmide
Num é mar, mas tem as ilhas
Num é crime, mas tem quadrilha
Essa é Campina Grande

Em trilhos enferrujados
Tudo mundo canta e dança
O trem hoje é mais lembrança
Do que transporte de fato
O povo vai animado
No balanço da viagem
Bebe e brinca à vontade
Até chegar a Galante
Num forrozinho empolgante
Que atrai turista à cidade

Faz chorar com seu lirismo
Um Ronaldo Cunha Lima
Que deu governo e deu rima
Jackson deu o ritmo
Manoel Monteiro, um mito
Escrevendo seu cordel
L. Ramalho foi menestrel
De espetáculos fabulosos
Dos adotados talentosos
É muito grande o plantel

Não sendo filho biológico
Dos que vieram de fora
O grande Raymundo Asfora
Foi telúrico e ideológico
Rosil, muito pedagógico
Fez música com fartura
Que até hoje perdura
E todos que aqui se firmaram
No solo fértil encontraram
Semente para a cultura

Dos filhos que são legítimos
Tem o poeta Amazan
O cartunista Ozanan
Palhaço Major Palito
João Gonçalves é um mito
Da música e da rima
São muitos os nossos artistas
Tem Joás Pereira Passos
E até mesmo o pássaro
Quer ser galo de Campina

Por falar em galo, o assunto
De agora é futebol
Não há time aqui melhor
Há dois que são bem astutos
Treze e Campinense juntos
Orgulham o torcedor
Que demonstra o seu amor
No domingo de Amigão
Galo e Raposa, pois, são
Como caça e caçador

Portanto, a Campina devo
O que escrevo e o que sou
Se um poeta se formou
Foi por causa deste berço
Do Nordeste o joelho
Que faz grande aniversário
Neste sesquicentenário
Parabéns, cidade honrosa
Tua história venturosa
Dá um mote literário

Campina, Grande cidade
De alma tão jovial
Estará mais atual
Ao duplicar esta idade
Adulto será o Parque
Da Criança no Catolé
Velho que ele já é
O açude estará idoso
E aquele que era novo
Maduro estará de pé

http://issuu.com/rafaelmelopoeta/docs/cordel_150_anos_de_campina_grande


As doenças causadas pelo mundo

(Inspirado em Augusto dos Anjos pelo centenário de sua morte)

Nasci com vários destinos
Pelo corpo circunscritos
Para que fossem trilhados
No espaço da infância
Criei uma repugnância
Pelos passos já andados

Sonhei, pensei e agi
Ao futuro requeri
Um futuro de presente
Mas ao crescer percebi
Que o caminho que segui
Era muito diferente

Eu ainda menininho
Nas pernas vários caminhos
Escolhi o mais banal
Foi trágico e infeliz
Quando eu "percebisenti"
O meu destino final

Fui no cosmos englobante
Um infante viajante
Número em uma máquina
Fiquei leproso, doente
Hipocondríaco, impotente
De maneira mais que rápida

Torto qual o anjo à sombra
Uma dor forte me assombra
Quando deito à noitinha
Esta tal espondilite
Anquilosante divide
O sorriso e a alegria

E nos caminhos dos membros
Os passos foram horrendos
Resultados infelizes
Por ser um inerte animal
Com nada de especial
Travaram-me as varizes

A visão ganhou limite
Tive uma uveíte
No olho que é da razão
Mas ainda palpitava
O olho que enxergava
Com íris do coração


Operei-me de varizes
Arrancaram as raízes
Duma veia incompetente
Mas veia de poesia
Num existe cirurgia
Que "desrime" ou arrebente