sábado, 13 de julho de 2019

Estudante surdo se forma com conceito A em universidade pública, desenvolve game e destaca ajuda de outros surdos


Matheus Soares revela como grupo de outros surdos o ajudou.

Jogo desenvolvido foi apresentado e aprovado com conceito A.
Quando uma pessoa nasce com um diagnóstico de surdez severa, isto significa dizer que o paciente tem uma possibilidade muito grande de não desenvolver a audição e, por consequência, a fala. Matheus Soares nasceu há 23 anos com este tipo de deficiência. Os pais não descansaram e investiram no tratamento do filho. Apesar de todo o esforço e trabalho com a ajuda de profissionais preparados, o grau avançou para surdez profunda. Mas isso não impossibilitou Matheus de desenvolver a fala e de escutar por meio da ajuda de um aparelho auditivo.
Mesmo com a dificuldade de comunicação, o primeiro curso superior pretendido pelo jovem foi o de Comunicação Social. Largou a vida tranquila em um apartamento de classe média da família no Rio de Janeiro para morar em Campina Grande, na Paraíba, e estudar na Universidade Estadual da Paraíba.
Depois de um período no curso, decidiu mudar e foi estudar Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande. Matheus conta que teve muitas dificuldades de adaptação pela falta de acessibilidade e inclusão, mas conseguiu compensar os obstáculos com muita leitura e a ajuda de alunos e professores. “Eu entendo boa parte do que as pessoas falam por meio da leitura labial. Então, quando o professor bota a mão na frente da boca ou fala de costas, eu simplesmente não capto o que está sendo dito. Foi muito difícil, mas eles conseguiram entender em parte, e eu também corri atrás”, disse Matheus.
O fascínio pela animação e o mundo dos games o levou a desenvolver um produto inusitado no curso: um jogo digital. “O Ataque das Galinhas Mutantes” é um game bem humorado em que o fazendeiro tem que se livrar da fúria das galinhas. O jovem contou com a ajuda de amigos e do próprio pai para desenvolver o produto. O trabalho foi aprovado com conceito “A” pela banca da UFCG.
Mas o caminho até essas conquistas não foi tão fácil. Matheus conta que a deficiência criou muita dificuldade na interação. “A surdez, mesmo que não completa, causa muitos problemas de comunicação, o que desenvolve a dificuldade de interação social. E isso é muito sério! Durante muito tempo, me deparei com uma dificuldade de interação, o que prejudica em todas as áreas”, narra.
Contato com grupo de surdos oralizados ajudou Matheus a superar obstáculos.
Mas foi a partir do contato com um grupo de surdos oralizados que Matheus conseguiu se desenvolver e superar os obstáculos. “Desde 2017 eu entrei para esse grupo criado por uma paraibana de João Pessoa. O ‘Diversidade Surda’ reúne pessoas que têm dificuldade na audição e na fala, mas que não se comunicam pela Língua Brasileira de Sinais. Pensar que surdos só falam através da Libras é uma visão muito limitada”, explicou.
O grupo tem mais de 150 participantes e realiza encontros semestrais em estados diferentes do país. “Esse grupo ajudou a melhorar minha autoestima e a ganhar autonomia e confiança. Hoje eu viajo sozinho, sou independente nesse sentido. O nosso grupo está ganhando visibilidade porque não é para falar apenas tecnicamente da surdez, mas é para promover a amizade entre surdos”, disse.
Hoje Matheus desenvolve conteúdo para os perfis do grupo nas redes sociais para ajudar outras pessoas com a mesma deficiência. O jovem ainda está decidindo quais serão os próximos passos da sua história, mas deve retornar para o Rio de Janeiro e se dedicar à área de tecnologia da informação e ciência de dados. Contudo, já tem a certeza que se encontrou no mundo. “É aquela sensação de pertencimento, de se sentir incluído e respeitado. A verdadeira alegria está em conviver entre seus semelhantes.”