quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Mulheres usam meditação e autoconhecimento para transformar vidas de detentas

Conhecer a verdade é algo que liberta! É tudo o que faz um projeto no Centro de Ressocilização de Rio Claro (SP). As mulheres presas têm suas vidas transformadas, ressignificadas, a partir do autoconhecimento, da descoberta sobre suas histórias.

A ideia é ressocializar as mulheres para reinseri-las na vida em comunidade, mas com mudanças significativas e, para isso, é preciso ir no mais íntimo de cada uma delas.

“Sentimos a necessidade de as pessoas saberem qual o lugar delas na sociedade, dentro do sistema familiar, de ter conexão com a sua própria história, a sua própria origem. Por não ter essa noção de pertencimento com sua família, no mundo do crime elas têm um lugar, pertencem a algo, um grupo, e aí que muitas vão cometendo seus delitos e vão parando nas penitenciárias”, explicou Rita Duenhas, coordenadora do trabalho.

Nossa, que profundo, não é?! E para deixar essas detentas mais confortáveis e propensas a abrirem a chave dos seus corações, o trabalho é todo desenvolvido também por outras mulheres.

Transformação é realizada a partir da família e da meditação

A primeira medida é conhecer a história da família e fazer refletir sobre as causas que as levaram até a prisão. “Isso nos faz entender o porquê das ações dos nossos pais, porque repetimos as nossas histórias... Tem moças que são de famílias que a família inteira está no mundo do crime, então foi a única realidade que elas conheceram”, explica Rita.

E como mudar isso? Essa construção de anos? “Temos que ressiginificar todas essas coisas adoecidas da infância até hoje e mostrar que elas podem fazer diferente e é difícil quando a gente não tem conhecimento da nossa história, da nossa raiz. Elas precisam transformar a família delas para elas se transformarem. Nós trazemos essa força para eles, esse poder!”.

São 3 horas de sessão uma vez por semana durante 10 semanas. As detentas fazem ainda meditação, participam de momentos de musicalidade e terapia em grupo e o principal trabalho é desconstruir traumas e preconceitos consigo mesmas.

“A gente dá força para elas fazerem diferente, para trabalhar o perdão e a culpa, que é o que consome lá dentro. Então trabalhamos muito com o perdão, da compreensão do que levou ela a fazer aquilo e como ela pode fazer diferente a partir dessa nova consciência”, disse Rita.

Poxa! Que olhar humano e desprovido de qualquer preconceito para uma categoria geralmente tão marginalizada, não é? Através dessa sensibilidade, esse trabalho está ajudando a ressocializar verdadeiramente dezenas de mulheres e devolvendo pessoas mais conscientes do seu poder no mundo. “Uma consciência desperta é capaz de despertar muitas consciências”.

Mulheres recebem capacitação e recebem liberdade já com emprego

O projeto desenvolvido por Rita não cuida somente da mente e da alma dessas mulheres, mas as prepara também para as responsabilidades fora da cadeia. Para isso, elas recebem várias capacitações, com cursos profissionalizantes, como panificação, serviços de beleza e até coach. Há uma parceria com empresas e algumas já saem empregadas.

Em 2019 foram 56 mulheres que passaram por essa oportunidade de transformação e em 2020 outras 56 vão iniciar o acompanhamento do projeto. 

Rita lembra que elas são iguais a nós que estamos cá do lado de fora e que o que muda é somente o que está dentro de cada uma, por isso, a transformação age lá no interior dessas mulheres. “É muito amor o que a gente oferece e nada nos difere delas porque muitos de nós também fazemos coisas equivocadas e erradas e a sorte é o nosso controle emocional diante de algumas situações porque quando não temos inteligência emocional vamos fazendo coisas que nos levam a situações que não tem como a gente mudar, por isso a meditação e o trabalho de respiração”.

Veja só a beleza dos depoimentos de algumas dessas novas mulheres:

“Eu olhei, e recordei tudo, e olhei com amor, foi tudo muito bom. Deixou pra mim um olhar diferente da vida e um futuro mais feliz”.

“Me fez muito bem, bem pra minha vida, bem pra minha alma, experiência maravilhosa”.

“Aprendi qual é o meu lugar, que lugar que ocupo na minha família. Hoje compreendo que sou filha e tenho que fazer meu papel de filha. Aprendi a lidar com muitas situações que me aprisionavam internamente. Foi tudo muito lindo, vou levar para sempre”.

“Hoje me sinto muito mais leve. Meus pensamentos mudaram em relação ao perdão, em relação à minha família. E a cada aula eu pude perceber o quanto essa força vem de dentro de mim mesma para enfrentar o mundo lá fora, que é o meu maior desafio”.

“Aprendi que muitas coisas o erro me trouxe de aprendizado e aprendi principalmente que vale a pena viver. Eu aprendi e gostaria de começar tudo de novo, uma outra vez”.

“Me trouxe paz, me trouxe segurança. Consegui matar o sentimento de vingança que tinha dentro de mim”. 

“Aprendi a me amar, a me perdoar”.

“Consegui me conformar, sentir mais leve a dor que tinha no peito”.

“Pude me abrir. É muito bom falar sem ser criticada. Poder falar dos meus pais, da minha mágoa, e ser compreendida”.

“Hoje eu consigo me renovar. Hoje eu posso acreditar que o novo existe e eu mereço ele”.

“Aprendi o que um dia eu fui, o que sou hoje e o que eu serei a partir de agora”.

“Esse momento vai fazer toda a diferença no meu caminho novo”.