quinta-feira, 15 de abril de 2010

Sem sentido

Quando chega a noite, eu me desespero. Parece que todas as minhas aflições e problemas se encontram num “happy hour” pra festejar o meu sofrimento. As lembranças e incertezas - e ainda bem quem que elas existem, pois qual seria a graça de entrar num jogo, já sabendo o resultado - batem e rebatem com o som de um martelo judicial nas mãos da consciência. E ela não me absolve. A televisão, ligada à meia altura, não me distrai. Minhas aflições nunca foram muito importantes, e nunca dariam uma matéria de jornal, não tenho dom para encenar. Eu me preocupo e me torturo com as coisas mais simples da convivência humana, e não estou perdendo tempo, aliás, acho que estou muito a frente da maioria dos jovens da minha idade, besteira, diante Deus e da Justiça são todos iguais. E por mais que eu tente fugir das indagações acerca do valer ou não à pena essa correria louca, desenfreada pela traição da vida, não consigo fugir da sentença da mente. A porta da casa fechada fecha também os meus sentidos. Eu odeio a noite. Não tenho com quem compartilhar as experiências vividas na rotina do dia, e o meu contato com o mundo é através de uma tela virtual. Eu escrevo agora para esquecer o mudo lá fora, e o quanto eu poderia estar aproveitando os anseios da minha idade, mas me relegaram uma responsabilidade muito maior, pautada em resultados. “Vamos lá, tudo bem, eu só quero é me divertir, e esquecer dessa noite ter um lugar legal pra ir”. Não sei quando vou acabar essa transcrição de pensamentos, devaneios, aliás, eu não sei se vou terminar, pois todo dia vivo essa angústia. Uso muitas vírgulas, pois quero que esse momento demore, se eternize, não, não, só que me dê sono, e que eu possa repousar a cabeça, mas não a mente. Deleito o crânio sobre o meu travesseiro com penas de ganso, e não tenho nenhum remorso pelo pobre animal, mas o pagamento da fatura me flagela. Durmo, acordo, e com o amanhecer, tudo aquilo que restringia o meu viver some, já não me preocupo em pedir desculpas a minha mãe por só procurá-la para contar as coisas ruins que eu vivenciava, ou de dar bom dia ao motorista do ônibus e irradiar a todos com um humor matinal exótico. Foi-se o meu ressentimento e a noção de culpa, eu só quero correr atrás de tudo isso que me dizem ser o certo e que me maltrata ao fim do dia.

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