O
pesquisador sobre midiatização Fausto Neto nos chamou a atenção para o novo
caráter que as mídias assumem no nosso cotidiano, não mais como mediadores de
discussões ou de ponte entre os cidadãos e os poderes. Agora, é pelas mídias
que passa a própria dinâmica da vida social. Com o recente atentado terrorista
à França, milhões de mensagens se alastraram pela rede mundial de computadores,
smartphones, tablets, smartwacths, com informações sobre o acontecimento. Os
próprios cidadãos se valeram das tecnologias para levar a amigos e parentes
algum fato, alguma informação, enviando fotos ou vídeos por meio de
aplicativos, de redes sociais. Estes conteúdos logo seriam acessados por não
conhecidos e até utilizados por jornalistas. Em alguns casos, os próprios
personagens que viveram essa história registraram algo do momento justamente
pensando na relevância do caso e sabendo do potencial comunicativo daquele
conteúdo.
A
facilidade de acesso à internet, a disponibilidade de dispositivos móveis para
criação de conteúdo e rápida disseminação e, sobretudo, a relevância do
acontecimento fizeram os interessados no assunto buscar informações o tempo
todo na internet, e não somente por meio dos sites de notícia, mas
principalmente, nas redes sociais. No primeiro momento, os envolvidos
diretamente no cenário do atentado fizeram registros que tão rapidamente seriam
reproduzidos no mundo inteiro. As grandes empresas de comunicação deslocaram
seus batalhões de repórteres para a capital francesa, mas nenhum material
jornalístico era tão forte quanto o produzido pelos cidadãos comuns e todas as
emissoras de TV, rádio, os sites e jornais impressos utilizaram sobremaneira os
vídeos e áudios de whatsapp ou facebook dos franceses.
No
twitter, encabeçando a lista dos trending topics no Brasil durante o fim
de semana estava a hashtag #OMundoSeriaMelhorSe,
convocando os usuários do microblog a refletirem sobre o atentado. Outras tags foram usadas como mecanismo de
buscar pessoas desaparecidas ou de informar às autoridades francesas sobre o
desaparecimento de parentes depois dos ataques. Isso tudo mostra um lado muito
positivo do uso coletivo da rede em prol de ações, reflexões, debates em torno
de um tema mundial. Uma mobilização internacional em solidariedade às vítimas
também se construiu em função da tragédia, com mensagens de pesar dos
internautas nas redes e até de estratégias das próprias empresas alocadas na
internet que criaram aplicativos para colorir as fotos de perfis com as cores
da bandeira francesa.
Contudo,
muitos internautas não entendem a ferramenta que têm nas mãos e as
possibilidades de interação. Muitas opiniões que antes ficariam confinadas,
limitadas, restritas ao convívio das pessoas com seus familiares, amigos e
colegas de trabalho, foram publicadas nas redes sociais e ganharam projeção
maior do que deveriam e o pior é que se tratavam de mensagens negativas,
denegrindo os franceses, a cobertura midiática do caso, e até, acreditem,
vangloriando o feito do Estado Islâmico. Se uma lástima se concretizou em
Paris, uma tragédia se desenhou nas redes sociais com a prospecção de visões
tão limitadas e desumanas de tantas pessoas. Nessas horas, dá até para
concordar com Umberto Eco, “Redes sociais deram voz à legião de imbecis”.
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