segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A tragédia nas redes sociais

O pesquisador sobre midiatização Fausto Neto nos chamou a atenção para o novo caráter que as mídias assumem no nosso cotidiano, não mais como mediadores de discussões ou de ponte entre os cidadãos e os poderes. Agora, é pelas mídias que passa a própria dinâmica da vida social. Com o recente atentado terrorista à França, milhões de mensagens se alastraram pela rede mundial de computadores, smartphones, tablets, smartwacths, com informações sobre o acontecimento. Os próprios cidadãos se valeram das tecnologias para levar a amigos e parentes algum fato, alguma informação, enviando fotos ou vídeos por meio de aplicativos, de redes sociais. Estes conteúdos logo seriam acessados por não conhecidos e até utilizados por jornalistas. Em alguns casos, os próprios personagens que viveram essa história registraram algo do momento justamente pensando na relevância do caso e sabendo do potencial comunicativo daquele conteúdo.
A facilidade de acesso à internet, a disponibilidade de dispositivos móveis para criação de conteúdo e rápida disseminação e, sobretudo, a relevância do acontecimento fizeram os interessados no assunto buscar informações o tempo todo na internet, e não somente por meio dos sites de notícia, mas principalmente, nas redes sociais. No primeiro momento, os envolvidos diretamente no cenário do atentado fizeram registros que tão rapidamente seriam reproduzidos no mundo inteiro. As grandes empresas de comunicação deslocaram seus batalhões de repórteres para a capital francesa, mas nenhum material jornalístico era tão forte quanto o produzido pelos cidadãos comuns e todas as emissoras de TV, rádio, os sites e jornais impressos utilizaram sobremaneira os vídeos e áudios de whatsapp ou facebook dos franceses.
No twitter, encabeçando a lista dos trending topics no Brasil durante o fim de semana estava a hashtag #OMundoSeriaMelhorSe, convocando os usuários do microblog a refletirem sobre o atentado. Outras tags foram usadas como mecanismo de buscar pessoas desaparecidas ou de informar às autoridades francesas sobre o desaparecimento de parentes depois dos ataques. Isso tudo mostra um lado muito positivo do uso coletivo da rede em prol de ações, reflexões, debates em torno de um tema mundial. Uma mobilização internacional em solidariedade às vítimas também se construiu em função da tragédia, com mensagens de pesar dos internautas nas redes e até de estratégias das próprias empresas alocadas na internet que criaram aplicativos para colorir as fotos de perfis com as cores da bandeira francesa.

Contudo, muitos internautas não entendem a ferramenta que têm nas mãos e as possibilidades de interação. Muitas opiniões que antes ficariam confinadas, limitadas, restritas ao convívio das pessoas com seus familiares, amigos e colegas de trabalho, foram publicadas nas redes sociais e ganharam projeção maior do que deveriam e o pior é que se tratavam de mensagens negativas, denegrindo os franceses, a cobertura midiática do caso, e até, acreditem, vangloriando o feito do Estado Islâmico. Se uma lástima se concretizou em Paris, uma tragédia se desenhou nas redes sociais com a prospecção de visões tão limitadas e desumanas de tantas pessoas. Nessas horas, dá até para concordar com Umberto Eco, “Redes sociais deram voz à legião de imbecis”.

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