quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O homem que distribuía risadas



Conheci Shaolin quando eu ainda era uma criança e ele já começava a despontar no cenário nacional, embora já fosse completamente conhecido localmente. Uma prima minha, Patrícia Torreão, tinha uma locadora de vídeos de saudosa memória no coração de Campina Grande e foi neste local que começaram a ser alugadas as primeiras fitas das apresentações de Shaolin.
Ela mantinha uma grande amizade com ele e fez acontecer o meu encontro com o humorista em 1998. Como eu recitava versos engraçados, fui apresentado a esse mestre do riso como promessa do humor. Ele foi esplendidamente gentil e atencioso. Lembro do respeito com que me escutou e como também me fez rir. Ele era a estrela, mas me deixou tão à vontade que fez eu me sentir um pequeno astro completamente confortável ao lado de tão genial artista.
Os anos se passaram e outro dia, já eu estando crescido, o reencontrei novamente em uma gravação no trem do forró em Galante, eu atuando no jornalismo campinense e ele no entretenimento da grande mídia nacional. Mesmo após tanto tempo, Shaolin me reconheceu, se despiu do personagem que vinha fazendo graça em cada vagão e me dirigiu uma palavra de amigo. Ele era muito humilde.
O tempo vai passando e no dia do acidente do comediante, estavam novamente nossos caminhos se entrecruzando. Eu trabalhava na redação de uma televisão campinense e fiquei incumbido de acompanhar os detalhes daquela notícia trágica. As coincidências não parariam por aí porque logo eu ficaria sabendo que o artista sofreu o acidente quando saía do distrito campinense de São José da Mata, minha terra e de toda a minha família. Passados estes cinco anos, eu comecei a conviver com pessoas diretamente ligadas a Shaolin e que antes eu não conhecia, o que me mantinha ligado, ainda que indiretamente, ao humorista. Quinta-feira, 14 de janeiro de 2016, chegava e eu novamente estava no jornalismo cotidiano para noticiar a morte de Francisco Jozenilton Veloso.
O homem que fez milhares de pessoas sorrir não imaginava que faria tantos mais chorar pela sua morte. Foram cinco anos de espera, expectativa. Todos aguardavam que em algum momento o riso retornasse ao rosto nipônico de Shaolin... Todo mundo alimentava essa esperança silenciosamente. Enquanto todos lembravam de Shaolin, Francisco relutava também em silêncio para sair daquela situação. O humor e o amor dos familiares eram suas armas. Agora, eram as pessoas que queriam animá-lo. Em vez do riso da plateia, ele passou a escutar a frase #ForçaShaolin. Dali em diante éramos todos Shaolin. Ele não estaria só, até porque ele próprio era mais de um, com a facilidade de imitar qualquer pessoa e se transformar. Vai agora se transformar em uma alegre lembrança.

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