terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Há cem anos o mundo se loreou



Lourival Batista Patriota nasceu há 10 anos e foi um brasileiro bem patriota, mesmo tendo nascido no Egito, no de São José, Sertão pernambucano, lá no Vale do Pajeú, onde poeta dá feito chuchu. O trocadilho foi marca registrada desse Louro do Pajeú, que reluz feito ouro. Repentista da melhor qualidade, soube improvisar com a velocidade de um alazão nutrido e teve a paciência igualmente à de uma coruja para dar botes nos motes. Sua casa será transformada em museu, mas a memória dele é viva e oralizada em todo o Nordeste. Eu cresci ouvindo meus tios declamarem as tiradas desse gênio que vem de uma dinastia de poetas, tendo dois irmãos também violeiros cantadores e sendo genro também de outro poeta. Como essa que soltou a um bêbado que insistia para que ele tomasse cerveja enquanto cantava:

Deixe de tanta imprudência
Deixe eu findar a peleja
Como é que eu posso tocar
Cantar e tomar cerveja
Quem tem três gosto é cachorro
Que anda, late e fareja

Em outra tirada cheia de trocadilho, se referiu à cidade paraibana de Cubati da seguinte forma:

Ô nome bem empregado!
O nome de Cubati
Sem o A e sem o B
Sem o T e sem o I
O que sobra desse nome
É o comércio daqui

Em alusão a Louro, esta semana me perguntaram onde ficava Mucutu e eu respondi da seguinte forma:

Mucutu é uma barragem
Que fica em Juazeirinho
Tirando o M e os dois Us
Do começo e do finzinho
E se o cabra tirar o T
Ele então consegue vê
Um nome bem miudinho

E uma leitura bela da vida de Louro:

Do gosto para o desgosto
O quadro é bem diferente
Ser moço é ser sol nascente
Ser velho é ser um sol-posto
Pelas rugas do meu rosto
O que eu fui, hoje não sou
Ontem estive, hoje não estou
Que o sol ao nascer fulgura
Mas ao se por deixa escura
A parte que iluminou

Ainda sobre a velhice, uma pessoa lhe perguntou o que era aquilo que ele estava usando para se apoiar e ele disse:

Isto é uma bengala velha
Que já não bengala bem
Que já galou tanta gente
Hoje não gala ninguém
Quando precisa galar
Procura gala e não tem

Além da resposta ao peru do jogo de baralho. Louro tinha tirado ótimo jogo e o peru que estava de fora para dizer que com qualquer carta ele batia, gritou: "Eita, seu Louro! Toda roupa veste um nu". Lourival respondeu completando:

Menos gravata e colete
Que nem cobrem o cacete
Nem a beirada do cu

Louro viveu sempre como artista da forma mais rudimentar cantando nos mercados e um de seus principais parceiros com quem pelejou várias vezes foi Pinto do Monteiro. Orlando Tejo fez belo trabalho com quadras homenageando esses dois artistas. E eu concluo dizendo assim:

Louro é para o Nordeste
Como Tom para Jobim
O veludo pra o cetim
A roupa para quem veste
Só que este cabra da peste
Eu nunca vi nenhum dia
Mas desde sempre eu ouvia
Seus versos de um em um
Louro fez o Pajeú
Irradiar poesia

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