Gonzaga e Humberto
De saudade me aperto
Com a alma castigada
Por não ter mais nosso Humberto
E nem escutar Gonzaga
Voz de magia, tão maga!
Encantou até o esperto
O mágico era Gonzaga
O feiticeiro, Humberto
Rimas com efeito verto
Ocupando a área vaga
Copiou o Norte Humberto
Cantou o Norte Gonzaga
O baião, ninguém indaga:
Quem mostrou ao universo
Pois sabe que foi Gonzaga
Juntamente com Humberto
Cantando o futuro incerto
Da seca que castigava
Deixou o peito Humberto
Na serra que é de Gonzaga
Pra diminuir a chaga
Do Nordeste com inverno
Implorou mestre Gonzaga
Suplicou doutor Humberto
Uma ave que faz o verso
A outra canta e propaga
“A Asa Branca” Humberto
“O Assum Preto” Gonzaga
A obra foi consagrada
Como oásis no deserto
No solo infértil Gonzaga
Plantou, colheu com Humberto
Trilhando o caminho certo
Luiz sempre enxergava
Pelo olho de Humberto
Que se via em Gonzaga
Pois quem na fumaça traga
E nas canções fica imerso
Vê transcrito seu Gonzaga
No texto que é de Humberto
Quem bebe de peito aberto
E deles se embriaga
Sente pulsando Humberto
Na goela que é de Gonzaga
O céu hoje se alaga
Com os dois estando perto
Nas nuvens pra ver Gonzaga
Os anjos vão a Humberto
E neste celeste teto
O concerto não divaga
Até com lira Humberto
Tá tocando com Gonzaga
Construíram bela saga
Vivendo sempre bem perto
Teixeira é para Gonzaga
Como Luiz para Humberto
Baião-dos-dois é coberto
De forró com uma camada
Gonzaga fez de Humberto
O que este fez de Gonzaga
Só que nem jiló que amarga
Do fim estiveram perto
Mas Luiz só foi Gonzaga
Com Humberto sendo Humberto
Põe a gente neste inferno
A saudade que maltrata
Queria ter mais de Hum berto
E gozar mais de Gonzaga
Hoje a gente canta e afaga
Os dois com o naipe certo
Monarquia de Gonzaga
Doutorado de Humberto
Se errei algo, conserto
Não quero receber praga
Por tirar algo de Humberto
E botar algo em Gonzaga
Humberto fez como draga
Gonzaga ser descoberto
Se Teixeira achou Gonzaga
Luiz lapidou Humberto
Até com o tempo do eterno
Vossa obra não se apaga
Pois não morre um Humberto
Nem falece um Gonzaga
Feito abelha, zigue-zagua
Meu juízo, agora incerto
Não sei se Humberto é Gonzaga
Ou se Gonzaga é Humberto
Rafael Melo
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